terça-feira, 28 de novembro de 2017

[RESENHA] "AS PERGUNTAS", DE ANTÔNIO XERXENESKY

Nome: As Perguntas
Autor: Antônio Xerxenesky
Editora: Companhia das Letras
Onde comprar: Buscapé

Livro enviado como cortesia pela editora
Alina enxerga sombras e vultos desde criança. Doutoranda em história das religiões, especializada em tradições ocultistas e aferrada à racionalidade que tudo ilumina, ela se acostumou a considerar as aparições como simples vestígios de sonhos interrompidos.

Certo dia, um telefonema da delegacia desarruma sua rotina de tédio programado. A polícia suspeita de que uma seita vem causando uma onda de surtos psicóticos em São Paulo. A única pista disponível é um símbolo geométrico desenhado por uma das vítimas. Intrigada e ansiosa para fugir da rotina, Alina decide investigar por conta própria um mistério que a fará questionar os limites entre razão e religião, cultura e crença.

Em As perguntas, Antonio Xerxenesky costura o tédio da vida cotidiana com o desconforto do horror em um livro repleto de referências ao universo dos filmes, da música e do ocultismo.

“As Perguntas” nos leva até Alina, uma mulher em seus trinta anos de idade que apesar de sua formação em História e especialização em religião comparada, trabalha em um emprego entediante (palavras dela) de edição de vídeos.

A vida rotineira de Alina tem uma ruptura quando ela recebe um chamado da delegacia, onde solicitam sua ajuda em uma investigação envolvendo uma seita ocultista. Tal ocorrido leva a protagonista a entrar em contato com o estranho grupo, que a convida para uma cerimônia secreta. A partir daí o dia que tinha tudo para ser comum torna-se uma confusão de enigmas e sensações perturbadoras conforme Alina, com seu ceticismo inabalável, se envolve cada vez mais com coisas que estão além de sua compreensão.
“Acreditar em algo, quer seja Deus, quer seja amor, exige sacrifício, Alina pensou, exige que você esqueça o método científico e a cobrança por provas, exige que se iluda, se engane, Alina pensou, e não crer, o caminho de ceticismo, isso também exige sacrifício, exige que você descarte todos esses sentimentos que nunca conseguirá nomear.”
Recebi esse livro da Companhia das Letras e demorei em iniciar a leitura, confesso que não é o tipo de livro que compraria na livraria e isso me causou um desânimo. Quando enfim resolvi dar uma chance, me surpreendi pela rapidez com que terminei - apenas dois dias que se deu por momentos “Não posso parar nessa parte”, por minha insistência e pela pouca quantidade de páginas, que não chega a duzentas.

O livro se divide em duas partes; a primeira é narrada em terceira pessoa e nos mostra um pouco sobre a vida de Alina e como ela chegou até a seita ocultista. A segunda parte passa a ser narrada em primeira pessoa e mostra o contato da protagonista com a seita e as consequências disso. Gostei muito mais da história na terceira pessoa, isso porque tudo ficou muito cansativo e confuso quando a própria Alina assumiu o controle. Essa mudança na narração aconteceu já na metade do livro, quando a protagonista estava cheia de medos e incertezas e quando ela passou a ser uma voz ativa na história, é como se todos os seus sentimentos se agarrassem ao leitor. Estou até agora tentando descobrir o que foi real e o que foi imaginação de Alina, porque há coisas ali que nem ela mesma sabe dizer.
“Eu não acreditava naquilo. Precisava me lembrar disso. Precisava me lembrar que a realidade não comporta o sobrenatural. Mas, ali naquela sala, sob a luz distinta de que Dreyer falava, com a sensação — ou a certeza — de que havia um cadáver logo ao lado, a realidade parecia ter uma rachadura semelhante a uma teia de aranha, prestes a se estilhaçar em inúmeros pedaços.”
Eu sinceramente ainda não descobri se gostei ou não da história, mas há dois pontos que foram frustrantes para mim. O primeiro ponto é que eu esperava muito suspense sobrenatural e terror psicológico, mas tudo o que encontrei foi uma protagonista emocionalmente perturbada que corre por toda a cidade de São Paulo parecendo sem rumo e vendo uma sombra que pode ou não ser real - e isso não me afetou. Existe sim algum momento sinistro que me fez pensar “Que m3rd@ tá acontecendo aqui?”, mas toda a animação para por aí. Talvez uma ação mais intensa e perigo real para Alina não fossem a intenção do autor, mas por alguma razão fiquei esperando por isso e quando não encontrei, foi bem desanimador.

O segundo ponto frustrante foi o desfecho, em aberto. Se tem uma coisa que odeio nos livros é final aberto, afinal se eu quisesse escolher um final, escreveria meu próprio livro. Um final aberto deixa o leitor agoniado, pensando nas mil possibilidades do que pode ter acontecido aos personagens e nas respostas para os problemas que ficaram, sem nunca realmente encontrar uma conclusão. Você pode imaginar como estou me sentindo agora né? Cheia de questionamentos, claro. Levando em conta o título do livro, me pergunto se foi tudo intencional.

Mas nem tudo é frustração. Gostei muito dos temas tratados no livro, sobre religião e morte, mostrando como uma pessoa que busca explicação científica para tudo lida com situações que abalam o emocional, como o falecimento repentino de uma pessoa próxima e tão jovem. As dúvidas de Alina nos fazem refletir sobre as diferentes religiões espalhadas pelo mundo e também sobre o modo como vivemos nossas vidas, já que muitas pessoas tomam decisões baseadas em sua fé.
“Mas qual proteção há para uma pessoa que não acredita em alguém que cuida de você, ou em vida após a morte? Não há a quem pedir ajuda, Alina pensou. E quando alguém morre, não podemos achar que a pessoa foi para um lugar melhor ou que agora está em paz, porque não há evidências de que existe esse lugar melhor [...]”
Enfim, a única coisa que eu digo a você é que se prepare para isso, para todas as dúvidas que ficam para trás com o final abrupto. Não é minha intenção dizer para você ler ou não a obra, porque antes de começar eu fui atrás de algumas resenhas tentando descobrir antecipadamente se esse era o tipo de leitura que iria me agradar e isso não ajudou. Em cada blog encontrei uma opinião diferente e percebi que esse é o tipo de livro que divide opiniões. Uns gostam e outros não, uns ficam impressionados, enquanto outros não sentem nada. Só você, leitor, poderá decidir o quão profundamente esse livro te perturbou.

2 comentários:

  1. Não sei se gostaria de ler, principalmente pelo fato de ter um final aberto, mas a sinopse me lembrou de alguns outros livros, como a série Existence (mas um não tem nada haver com outro). Acho que a sinopse me enganaria e acabaria comprando, porque ou apaixonada por suspenses policiais, por isso sou meio chata em gostar dos livros desse tipo, porque é quase como se fosse uma obrigação do livro te prender, por isso ficaria muito decepcionada com o final!

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    1. Esse final aberto realmente foi um balde de água fria =S

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