sexta-feira, 22 de setembro de 2017

[RESENHA] "NINGUÉM NASCE HERÓI", DE ERIC NOVELLO

Nome: Ninguém Nasce Herói
Autor: Eric Novello
Editora: Seguinte
Onde comprar: Buscapé

Livro enviado como cortesia pela editora
"A verdade é que ninguém nasce herói. Mas isso não nos impede de salvar o mundo de vez em quando."

Num futuro em que o Brasil é liderado por um fundamentalista religioso, o Escolhido, o simples ato de distribuir livros na rua é visto como rebeldia. Esse foi o jeito que Chuvisco encontrou para resistir e tentar mudar a sua realidade, um pouquinho que seja: ele e os amigos entregam exemplares proibidos pelo governo a quem passa pela praça Roosevelt, no centro de São Paulo, sempre atentos para o caso de algum policial aparecer.

Outro perigo que precisam enfrentar enquanto tentam viver sua juventude são as milícias urbanas, como a Guarda Branca: seus integrantes perseguem diversas minorias, incentivados pelo governo. É esse grupo que Chuvisco encontra espancando um garoto nos arredores da rua Augusta. A situação obriga o jovem a agir como um verdadeiro super-herói para tentar ajudá-lo — e esse é só o começo. Aos poucos, Chuvisco percebe que terá de fazer mais do que apenas distribuir livros se quiser mudar seu futuro e o do país.

Imagine um Brasil governado por uma pessoa extremamente tradicionalista, alguém que rege o país com leis rígidas e nenhuma tolerância e que incentiva o preconceito das pessoas, reforçando o ódio entre seus apoiadores conservadores. É nesse contexto que vive Chuvisco, o protagonista da história.
“Numa época em que preconceitos antes velados são gritados com orgulho, não me espanta que tenha sido ele o eleito.”
Chuvisco faz parte de um grupo que não apoia o governo e cada um deles tem sua própria forma de lutar contra isso. O personagem principal tem o costume de encontrar seus amigos Cael e Amanda na Praça Roosevelt, para distribuir livros considerados proibidos a fim de espalhar sua ideia. Essa é toda a extensão da luta de Chuvisco contra esse sistema repugnante, até que um acontecimento o leva a se envolver com a Santa Muerte, um movimento de resistência que utiliza as redes sociais para combater o governo intolerante.

O livro é narrado em primeira pessoa por Chuvisco, um personagem que me conquistou apesar de ser um pouco complicado. Ele pode ser descrito como um garoto sonhador, um pacifista revolucionário que deseja viver em um ambiente melhor. Ele também possui “catarses criativas”, que são crises de alucinação que turvam sua percepção do mundo, tornando as coisas um pouco confusas para o leitor uma vez que estamos acompanhando a história a partir do seu ponto de vista. Essas alucinações dão a trama um toque fantasioso, misturando realidade e imaginação.

Minha leitura se dividiu entre momentos fluídos e outros arrastados, mas no geral meus pensamentos sobre o enredo são positivos. Gostei do espaço que o autor deu para os personagens secundários, dando aos leitores a oportunidade de conhecê-los melhor. Em uma trama onde o preconceito é um assunto importante, o que não faltam são personagens diversificados para nos mostrar que não há diferenças entre gays, héteros, negros, brancos, gordos, magros e etc. 
“Ninguém quer sentir medo ao andar na rua. Ninguém quer ser escorraçado, agredido. Ninguém quer sair de casa sem a certeza de que vai voltar só porque pensa ou age diferente.”
Atualmente o que mais vemos nas redes sociais é um grande grupo que se reúne para lutar contra essas discriminações, mas infelizmente isso desencadeia também respostas ofensivas que nos mostram como nossa sociedade ainda é permeada por pessoas cheias de ódio. Pensando nisso, é assustador ver como esse Brasil imaginado por Eric Novello não é algo impossível e é por isso que o seu livro é tão importante e deve ser recomendado, ele nos faz refletir sobre nossa realidade e as consequências do pensamento preconceituoso ou de um simples comentário de ódio postado anonimamente na internet.

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