domingo, 23 de julho de 2017

[RESENHA] "A FEBRE DO AMANHECER", DE PÉTER GÁRDOS

Nome: A Febre do Amanhecer
Autor: Péter Gárdos
Editora: Companhia das Letras
Onde comprar: Buscapé

Livro cortesia da editora Companhia das Letras
Julho de 1945. Miklos é um jovem húngaro de 25 anos que sobreviveu ao campo de concentração e foi levado para a Suécia para recuperar a saúde. Mas logo os médicos o desenganam: ele tem os pulmões comprometidos e conta com poucos meses de vida. Miklos, porém, tem outros planos. Ele não sobreviveu à guerra para morrer num hospital. Após descobrir o nome de 117 jovens húngaras que também se encontram em recuperação na Suécia, ele escreve uma carta a cada. Uma delas, ele tem certeza, se tornará sua esposa.

Em outra parte do país, Lili lê a carta de Miklos e decide responder. Pelos próximos meses, os dois se entregam a uma correspondência divertida, inusitada, cheia de esperança. Baseado na história real dos pais do autor, A febre do amanhecer é um romance vibrante e inspirador sobre a vontade de amar e o direito de viver. 

Miklos é um jovem húngaro que sobreviveu ao campo de concentração nazista e foi transferido para a Suécia para recuperar a saúde, apenas para ouvir de seu médico que ele tem alguns meses de vida em decorrência de um problema no pulmão. Miklos, no entanto, se recusa a aceitar a morte certa e insiste em seguir com o seu plano de apaixonar e casar-se logo, sendo esse o motivo que o leva a escrever uma carta para 117 jovens que também se recuperam em outros hospitais espalhadas pela Suécia.
“Vinte cinco anos e tanta, tanta coisa ruim. Eu não tenho como me lembrar de uma bela vida familiar harmoniosa: não faz parte de minha história. Talvez seja por isso que eu procure por uma tão desesperadamente...”
Entre as 117 jovens criteriosamente escolhidas está Lili, uma garota que resolve responder a Miklos apenas porque não tem nada melhor para fazer com seu tempo de repouso no hospital. Separados por vários quilômetros, Miklos e Lili continuam a trocar confidências sobre seus medos e as expectativas para o futuro, enquanto em seu dia a dia eles tentam encontrar na amizade com seus companheiros de alojamento uma forma de superar as marcas deixadas pela guerra.

“A Febre do Amanhecer” é um livro baseado na história dos pais do autor, porém a trama vai além do romance. Os personagens são todos sobreviventes da Segunda Guerra Mundial e agora precisam lidar com as consequências dos horrores vividos naquele período. Ao longo da leitura vemos os meios que cada um utiliza para enfrentar os problemas, sendo que nem todos esses meios são positivos, mas é assim mesmo na vida real, não é? Nem tudo são flores. Há amor e companheirismo, mas há também desespero e inveja.
“Meu pai não contou que no campo de concentração de Bergen – Belsen, durante três meses, ele queimará cadáveres. Como poderia falar daquele odor que emanava da montanha de cadáveres sufocando, arranhando a garganta? Seria possível encontrar um verbo ou adjetivo para esse trabalho?.”
Não é apenas superar os fantasmas da memória, mas enfrentar as verdades de uma nova vida em que as pessoas amadas que eles esperavam reencontrar já estão mortas, a necessidade de recuperar a fé e encontrar de novo algo pelo qual valha a pena viver. Essa é uma história realmente inspiradora, porque sabemos que ela é real. As pessoas citadas nos livros enfrentaram situações desumanas e sobreviveram para ver um novo dia, elas seguiram em frente encontrando a felicidade mesmo nas coisas mais pequenas.
“Deus perdeu você - está certo. Quer dizer, não está certo, eu também estou em litígio com ele. Brigando, zangando. Eu também não o estou perdoando. Como pôde fazer isso conosco? Com você! Com elas!”
Miklos e Lili encontraram um refúgio em suas cartas. Eles passaram pelas mesmas dificuldades e sentiram todo o medo e sofrimento dos campos de concentração, então conseguiam entender um ao outro. O amor veio com o tempo, evoluindo a partir do vínculo de amizade e confiança que eles construíram através das palavras.

Já devo ter escrito em outras resenhas que sou apaixonada por História e por consequência adoro livros ambientados em períodos que marcaram a humanidade. A Segunda Guerra Mundial é um dos meus assuntos favoritos, não pelas atrocidades cometidas, mas porque eu sempre tenho a chance de conhecer pessoas que são símbolos de resistência, coragem e atos de amor em um tempo tão sombrio. Agradeço a Companhia das Letras por me enviar esse livro, foi uma surpresa adorável e uma leitura reflexiva e emocionante. Essa é uma obra sensível e grandiosa que eu recomendo.
“E se tiveres um filho, irmãozinho, ensina-o
Que a justiça não se faz com espingarda e revólver,
Que o conserto do sofrimento do mundo
Não depende do alcance do míssil.

E na loja de brinquedos, irmãozinho, não compres
Soldados ao teu filho, mas na prateleira branca,
Escolha cubos de madeira, para que desde pequeno
Em vez de matar, que aprenda construir um novo mundo.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário